Bloguinho da Zizi

domingo, 22 de junho de 2014

.. é o que eu digo e é certo!



Tive uma pessoa na família que dizia a cada momento esta frase:
... é o que eu digo e é certo! Essa era a sua marca registrada.

Ela era muito séria e brava mesmo, mas aos meus olhos chegava a ser engraçada naquele papel de durona.

Nessa postura viveu seus 80 anos de vida, de muito sofrimento, pois ao contrário do que dizia, nem tudo era certo.
A vida provava a cada dia que não era assim.

Seu padrão era pesado e cheio de "tem que".

No dia de sua morte, alguém ao meu lado disse:
- Essa era ruinzinha ....

Olhei para ela, ali estática e sem vida e pude ver que o que deixou foram tristes recordações.
Recordações de alguém que tudo que dizia era certo.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Despalavrizando






Sabe quando percebi que as palavras nem faziam tanta falta?
Quando precisei delas para descrever a textura da solidão de um entardecer com chuva.
Também precisei quando senti o sabor amargo de um olhar triste de quem eu magoei.
Daí comecei a reparar no barulhão que as folhas das árvores fazem  quando a gente vai dormir triste, tentando nos avisar que tem muita vida lá fora ainda.
Reparei também que às vezes, no fim da tarde as andorinhas fazem um balé tentando nos impressionar.
Nem reparava que haviam plantas nascendo nas rachaduras das calçadas da rua, sempre me avisando para não desistir.
Gosto de pensar que precisamos criar mais palavras do bem.
As atuais estão tão em desuso, e já que tudo é moda...
Queria poder usar o vocabulário dos bebes. Não tem nada mais original.
Não tem verbo, nem substantivo, mas tem sentimento, tem vontade, tem verdade...
Acho que os passarinhos não gostam como as palavras estão sendo usadas,
nem as folhas, bem os riachos.
Mas então se tudo der errado, vamos despalavrizar o mundo?
Como numa brincadeira de criança, só vamos usar gestos?
Só vamos usar feições do rosto?
Assim vamos animalizar o mundo e nos comunicar com gestos e sentimentos.
Quem sabe assim precisaremos menos de palavras
Quem sabe assim teremos mais contato
Quem sabe assim aprendamos a linguagem dos do mato, dos bichos.
Que não precisam de poesia.
Eles são poesia ...

Alam Tombini